A crise energética na Argentina e as restrições às exportações de grãos no país estão, paradoxalmente, abrindo o caminho para a expansão da produção de milho no país. A próxima safra deverá ser marcada pela maior produção e plantio desde 1971
A crise energética na Argentina e as restrições às exportações de grãos no país estão, paradoxalmente, abrindo o caminho para a expansão da produção de milho no país. A próxima safra deverá ser marcada pela maior produção e plantio desde 1971.
O crescimento poderá ser sustentado por parte dos 800 mil automóveis que o país está produzindo por ano. A expectativa é que até 2013 o país deverá estar produzindo 400 mil toneladas métricas de etanol de milho.
No ano passado, a Argentina produziu 120 mil toneladas de etanol de cana, montante que deve se elevar a 190 mil este ano. Mas os altos preços do açúcar e as limitações climáticas para a expansão da produção fizeram com que o setor sucroalcooleiro permitisse a mistura de apenas 2% do combustível na gasolina.
A meta do governo era elevar este percentual para 5% já no próximo ano e chegar aos níveis brasileiros - 20% - em dez anos. Apenas três Províncias (Tucumán, Salta e Jujuy) produzem a cana. Já o milho é cultivado no país inteiro.
A área cultivada deve crescer cerca de 7%, segundo previsão do governo argentino, atingindo 4,9 milhões de hectares, mas o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima um produção 20% maior, da ordem de 27 milhões de toneladas. Mas não é o mercado externo que está animando os produtores.
"Aqui está o milho mais barato do mundo", afirmou Martín Fraguío, diretor executivo da Associação do Milho e do Sorgo Argentino (Maizar). Os exportadores conseguem colocar de 15 a 16 milhões de toneladas no exterior e o consumo interno responde por 8 milhões de toneladas.
Segundo Fraguío, o governo retém hoje a expansão das exportações, estabelecendo cotas, e impõe uma retenção de 20% sobre as vendas externas. "A tonelada é negociada a US$ 163 em Rosario, e pode cair a US$ 100 em Salta", disse. A cotação de ontem do USDA para a tonelada era de US$ 283. É nesta conjuntura que o suprimento para fins de energia entra na equação.
Nos últimos oito anos, o consumo de diesel e gasolina cresceu 43% no país e a balança comercial caiu do setor energético deixou de ser superavitária em US$ 5,6 bilhões em 2006 para uma previsão de déficit este ano de US$ 3 bilhões. O agravamento do problema coincidiu com o início do programa argentino do etanol.
Depois do investimento exclusivo no etanol de cana e no biodiesel de soja, o governo passou a oferecer cotas para o combustível de milho e créditos subsidiados do programa bicentenário, que são linhas financiadas com recursos vindos da estatização dos fundos de pensão, em 2008. "Dos cerca de US$ 600 milhões que estão sendo aplicados em cinco projetos, pelo menos US$ 100 milhões são de origem pública", comentou Fraguío.
Os dois maiores investimentos projetados são da ordem de US$ 200 milhões cada. O de maior capacidade de moenda deverá ser o da Promaiz, uma associação entre a empresa local AGD e a multinacional Bunge. O segundo é o da Associação das Cooperativas Argentinas, que reúne 50 mil pequenos produtores. A eles se somarão as usinas da Biocuatro, um grupo que reúne 20 produtores na Província de Córdoba e da Agroectano, de produtores de Salta. Também produzirá a Vicentin, que hoje já moi soja para a produção de biodiesel com a multinacional Glencore.